Praça Francisco Nobre

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Santana - Amapá

sábado, 26 de abril de 2008

Sofistas e demagogos

Por todos os lados pipocam notícias e comentários sobre situações de crise que leva à confusão as mentes de pessoas simples e comuns, por não entenderem o verdadeiro significado dos termos utilizados para definir momentos de evidente complexidade e que ao mesmo tempo servem para esconder decisões espúrias contra os cidadãos em relação aos seus direitos. Mas não causa surpresa tal situação porque conjunturas de crise são endêmicas da humanidade que, aliás, conduzidas e orientadas por representantes dos poderes econômico e político atacam sempre setores mais ou menos importante, conforme seus particulares interesses. O que vem causando preocupação aos observadores é o fato de que, a globalização econômica, política e social criou mecanismos de agilização dos efeitos e instrumentos de produção e gerenciamento de crises em locais e momentos oportunos.
A referência aqui feita aos interesses dos agentes da crise é em função de que tais situações servem para esconder ou disfarçar interesses outros que se manifestam em eventos que se aproximam ou já estão em processo de execução.
A sociedade brasileira presenciou recentemente uma tsunami de escândalos que atiravam pelo ralo do desperdício, da corrupção centenas de bilhões de reais que deveriam chegar ao encontro das necessidades de pessoas que esperam por atendimento médico nas portarias e calçadas de hospitais; saneamento básico na periferia dos pequenos e grandes núcleos urbanos; instrumentalização das escolas públicas que deveriam servir para melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH que tanto aparece nos discursos sofistas e demagogos dos políticos que desviaram recursos públicos ou participaram de negociações no Congresso Nacional para proteger políticos corruptos.
Com a aproximação do período eleitoral, várias oportunidades de confirmar presença no poder brotam nas férteis mentes dos políticos criando subterfúgios a serem utilizados para enganar, mais uma vez o pobre eleitor que, não teve oportunidade de trabalho e, conseqüentemente de salário; não teve oportunidade escolar e, conseqüentemente não terá argumentos para se defender das investidas dos ardilosos discursos que invadirão as suas casas e suas mentes provando que eles são honestos e que vão resolver todos os problemas que assolam suas comunidades.
Uma categoria de discurso que invade o cenário político é aquele sobre a Educação. Saiu recentemente o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, cujo resultado não foi satisfatório em nenhum ponto do Território Nacional, mas sem nem mesmo se preocupar em saber quais as causas que levam a tão insuficiente resultado, secretários de Educação se preocuparam em mandar diplomas de reconhecimento aos diretores e servidores das escolas pelo trabalho realizado em favor da formação dos jovens e adolescentes. Nunca se preocuparam em fazer uma visita às escolas; conversar com professores sobre os problemas que afetam os resultados das ações educativas, de onde deveriam surgir recomendações significativas para a tão esperada melhoria da qualidade da educação dos nossos alunos.
Eu particularmente fico doente quando entro em sala de aula, o cenário não é nada agradável. Quarenta alunos em um espaço que foi projetado para vinte e cinco é realmente desestimulante. As carteiras dos alunos ficam literalmente coladas à mesa do professor e, este fica imprensado entre as carteiras dos alunos e a parede que suporta o quadro de giz, impossibilitando que o professor se movimente dentro da sala; não há condições de se proferir um atendimento individualizado a um aluno que necessite desse tipo de atenção porque não há espaço físico nem condições ambientais para que se proceda de forma adequada a esse tipo de atendimento; não há condições de se fazer uma atividade em grupo porque a sala está, de tal maneira, cheia de carteiras e pessoas que qualquer tentativa de organizar grupos de trabalho gera um tumulto tão grade que até se colocar ordem na sala novamente já se perdeu muito tempo.
O Programa Do Livro Didático é outra falácia. Alunos do Ensino Médio não têm acesso ao programa. Não há bibliotecas, o que há nas escolas públicas é verdadeiros depósitos de livros velhos que deveriam atender ao Ensino Fundamental onde os alunos se reúnem para fazer suas pesquisas. Recentemente o governo do Estado enviou para a escola Everaldo Vasconcelos dez computadores, mas não providenciou os equipamentos necessários para a conexão com a Internet. Muito pouco vale porque investir em alta tecnologia sem que se possa usufruir de tudo o que ela pode dar é a prova de que as atitudes randômicas norteiam o sistema e, sendo assim, quaisquer discursos de melhoria da qualidade da Educação pregando a utilização de alta tecnologia é pura demagogia porque conota que o Governo está instrumentalizando a Escola, mas os professores – os vilões – não sabem ou não querem utilizá-la na sua amplitude para atingir a qualidade almejada.
Retornamos ao discurso político, abandona-se o Ensino fundamental para investir no Ensino Médio, porque a clientela deste já vota. Em seguida abandona-se o Ensino Médio em benefício do ensino Superior porque assim se atinge o eleitor nos dois flancos: oferta-se um Ensino Médio de péssima qualidade, mas te oferecemos um Ensino Superior que ficará ao alcance da visão de todos, mas longe das possibilidades de acesso. Quando alguns conseguem acessar logo descobrem que há a necessidade de começar uma grande luta pela melhoria da qualidade. Novamente a “melhoria da tal de qualidade”.


Elivaldo Magalhães

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