Há muito que eu queria falar sobre um assunto que todos fazem questão de falar sem ao menos se preocuparem se dominam seus fundamentos e pressupostos. Não é meu interesse esgotar o assunto, ou emitir opiniões conclusivas, mas é imperioso que se provoque a sociedade brasileira a refletir sobre o que preocupa as pessoas realmente interessadas em desvelar todos os fatores que contribuem para o grande mal do século XXI – a violência – que aliás, não é um privilégio deste século, a menos que se considere normal crucificar um jovem de 33 anos na Idade Antiga; ou que fosse normal exterminar centenas de civilizações nas Américas, durante a Idade Moderna; ou pensar que fosse normal explorar, escravizar e matar milhões de negros africanos arrancados à força de suas terras para produzirem riquezas e depois serem descartados e mortos por seus “senhores”.
À luz do meu entendimento, o conceito antecede a ação. Nessa ótica, é mister conhecer profundamente o conceito antes de agir, mas a mim parece que os tecnocratas de plantão não estão preocupados com a conceituação, com os fundamentos e com os princípios que deverão orientar as práticas vindouras. Por isso, quando se tratar de violências é fundamental fazer uma reflexão profunda para que se garanta a eficácia da ação. A análise do conceito de violência não requer muita habilidade acadêmico-cientifica, basta consultar o dicionário Aurélio que veremos vários significados para o verbete, como segue: violência – qualidade de violento; ato violento; ato de violentar. Tudo isso diz respeito ao ato de violar e este, segundo o mesmo Aurélio quer dizer: ofender com violência; infringir, transgredir; forçar a virgindade de; desflorar; deflorar; violentar; profanar;conspurcar; divulgar, revelar de modo alusivo.
Diante do exposto, o conceito de violência é muito mais amplo do que o que se prega e se combate, talvez por isso, não se tem conseguido sucesso na luta, mas talvez para não clarificar a violência pública e política se concentra a divulgação do conceito de violência urbana desviando a atenção do povo da pior de todas as violências “a violência institucional”
Há muito eu ouço de políticos e de especialistas planos de combate à violência, mas a cada plano executado a violência explode nas ruas, becos e praças. Às vezes me vejo a pensar que eles preferem “quanto pior melhor” porque não se vê clareza nas propostas e nas idéias dessa gente.
Na minha escola eu enfrento, a cada dia, situações que me conduzem a reflexões profundas sobre o combate à violência, sempre me perdia porque eu ficava a pensar em todas formas de violência, parecendo que para cada uma delas deveria haver uma solução diferente. Procurei então encontrar uma resposta genérica que fosse eficaz no combate à violência e não uma para cada especificidade. Foram anos incansáveis de reflexão. Certo dia assistia a uma entrevista de Ariano Suassuna que nela expressou o seguinte:
“Para Descartes, o que distingue o homem dos outros animais é a razão! Para mim o que distingue o homem dos outros animais é a capacidade de discernimento entre o bem e o mal! É por isso que o homem é ladrão, assassino e bandido, mas é por isso também que o homem escreveu Hamelt.”
Ora, o que disse Suassuna é a mesma coisa que dissera Descartes, a diferença é que um falou filosoficamente, o outro poeticamente, portanto mais acessível ao entendimento do cidadão comum. Então vamos interpretar a premissa do ponto de vista do cidadão comum: se o homem é ladrão, assassino e bandido, é porque ele é mal; se ele é capaz de fazer maravilhas com Hamelet, é porque ele é bom. Então há dentro do homem duas essências: a do bem e a do mal. Destacar-se-á aquela que for mais estimulada. Então concluímos que se estimularmos o bem o homem será bom; se estimularmos o mal o homem será mal.